Prelúdio
"Quando se acaba de ouvir um trecho de
Mozart, o silêncio que se lhe segue ainda é dele."
(Sacha Guitry,
cineasta russo, 1885-1957)
"Final
deste livro, já na Coda, quando
terminei a leitura ainda na versão digital, fiquei um pouco em silêncio,
pensando na edificação da Liderança e a essencialidade da Voz nesse processo de
sustentação, substantivação e perenização; voz como meio e mensagem, voz como
expressão de energia e urgência de cuidados, voz como propriedade e carícia,
voz que comunica, ensina, inspira, comanda, lidera...
"A maestrina Rita de Cássia,
exatamente por ser bastante inteligente, sabe que nos compararmos, qualquer um
de nós, ao Mozart, seria exagero mais do que despropositado. No entanto, por
ser também exímia conhecedora de música - e nela e com ela, da voz que a conduz e a
encanta - captura com competência a sonoridade do silêncio e seu
pertencimento à obra que o antecede.
"O que antecede a obra, no mais
das vezes, é o prelúdio, e, como conhecido, na origem esse era o nome que se
dava ao momento em que os músicos, antes da execução de uma peça, ficavam
afinando os instrumentos, tocando trechos usualmente improvisados, de modo a
atingir maior qualidade na performance; nas igrejas os organistas usavam esse
instante anterior ao início da liturgia para ajustar o som ao canto que viria.
"Por muito tempo houve uma
identificação entre 'prelúdio' e 'improvisação', até que, a partir do século
XVII, passou a ser essencialmente uma 'improvisação preparada', chegando ao
ápice em J. S. Bach no século seguinte, com a sequência prelúdio/fuga que nos
leva a admitir, como Emil Cioram: 'o que seria de Deus sem Bach'? E do líder
sem a voz?
"Para
que, então, este prelúdio? Para aguçar a
expectativa de que se vai poder ler e refletir sobre conceitos, modos, caminhos
e alertas sobre Gestão, Arte, Comunicação e Liderança a partir de uma 'improvisação preparada'.
"Não
é, claro, improvisação como elogio do imprevisto, ou do inopinado, ou do
precário; longe demais disso. A improvisação que Rita de Cássia nos oferta é
aquela da boa Arte e da aguda habilidade, quando escreve e nos desafia com
invenção criativa e expressão sutil sobre os 'palcos' e 'tempos' que a
Liderança precisa orquestrar.
"Muito
bem preparada, esta ótima improvisação da maestrina antecede realmente a
entrada, permanência, persistência e relevância da presença da Liderança no
palco; estudar os princípios, acatar as advertências e admirar os movimentos
que sugere nos ajuda bastante a dar maior harmonia e sonoridade não-ruidosa à
gestão de pessoas, ideias, projetos e processos.
"Passada
esta afinação, a essência provocante da obra vai vir mesmo agora é na Fuga...
São Paulo,
Inverno de 2011.
Prof. Dr. Mario
Sergio Cortella
Filósofo e Professor Titular da
PUC-SP (Departamento de Fundamentos da Educação)
Professor de pós-graduação e
MBA na Fundação Dom Cabral e GVpec/FGV-SP
Autor de várias obras nas áreas
de filosofia, ética, educação e gestão
Foi Secretário Municipal da
Educação de São Paulo
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